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Blog - Ale Toledo

Foto do escritorAle Toledo

Uma viagem à Piracanga

Atualizado: 26 de jul. de 2020

Como uma viagem para uma comunidade alternativa na Bahia transformou minha vida


Foto: Dança circular na comunidade de Piracanga


O ano de 2016 marcou uma transformação radical na minha vida, e o marco principal dessa virada foi uma viagem que fiz a uma comunidade alternativa chamada Piracanga, localizada no sul da Bahia, próximo a Itacaré. Um local totalmente desconhecido por mim, mas que viria a se tornar o lugar mais incrível que já conheci até hoje.


Em junho daquele ano, eu havia deixado para trás minha profissão como engenheiro em uma grande empresa para seguir um propósito de vida que gritava no meu coração. Queria que minha existência nesse plano tivesse um sentido maior e que impactasse de forma positiva as pessoas à minha volta. Estava concluindo uma formação para ser professor de yoga, e decidi sair do escritório para me lançar no mundo.


Foi então que ouvi falar sobre Piracanga: “um lugar com uma atmosfera mágica”, segundo uma amiga que havia visitado o local. Fiz uma pesquisa rápida e descobri que dali a duas semanas a comunidade iria oferecer um curso de um mês sobre Bioconstrução com um arquiteto boliviano e isso me pareceu super interessante. Não pensei duas vezes, fiz minha inscrição e peguei o voo direto para Bahia.

A experiência já começou no caminho do aeroporto até comunidade. Dentro de uma kombi que sacolejava no ritmo de uma estrada de terra batida, eu assistia através da janela o cerrado brasileiro com sua vegetação rasteira se confundir com extensões de floresta. Algumas das pessoas que faziam esse trajeto comigo, e que já haviam estado em Piracanga, antecipavam as belezas e as qualidades do lugar, o que me deixava ainda mais curioso.


Enfim chegamos, e meu fascínio era como de criança. A comunidade se desenvolveu em meio a uma densa vegetação de floresta tropical. Vivem em simbiose com a natureza em lindas casas bioconstruidas de arquitetura deslumbrantes. A estrutura da comunidade também é excelente: há um local próprio para produção de cosméticos naturais, uma área de permacultura, um restaurante vegetariano/vegano delicioso, ocas de convivência comunitária e locais para hospedar os visitantes. Possuem também um centro holístico com diversas terapias como Reiki, leitura de aura, massagens, yoga, danças circulares e oráculo dos sonhos, que mais tarde seriam ferramentas de cura e autoconhecimento para mim. Como tudo é no meio da mata, os caminhos se conectam por labirintos de trilhas abertas na vegetação, o que torna o clima muito fresco e agradável. Mas o verde da mata se contrasta com a faixa litorânea, uma extensão de areia e mar que dão à comunidade o privilégio de ter uma praia particular.

Foto: Eco Casas da comunidade


Eu e outras quinze pessoas, que também iriam fazer o curso, ficamos hospedados na Casa Floresta. Tudo ali era responsabilidade coletiva, desde preparar as refeições até manter tudo limpo e organizado. A rotina do curso era dividida em dois períodos: pela manhã aprendíamos e colocávamos a mão na massa, e o restante do dia podia ser aproveitado como quiséssemos para desfrutar de Piracanga.

Foto: Casa Floresta e os participantes do curso de Bioconstrução. Eu sou aquele sentado no puff azul :)


Na minha cabeça de leigo, bioconstrução era algo rústico e de certa forma “improvisado”, usando o que se tem de recurso disponível no local e fazendo o que fosse possível. O Willian, arquiteto que conduziu o trabalho, mudou radicalmente essa minha concepção. A casa que iríamos construir era enorme e seria o novo laboratório de cosméticos naturais. No projeto utilizamos diferentes técnicas como adobe, hiperadobe, pau a pique, taipa de pilão e algumas outras.

Foto: O banheiro mais lindo do mundo. Uma obra também projetada pelo Willian.


O teto da casa era algo impensável: composto por “piscinas” com pequenos desníveis entre si para gerar um fluxo de água, e que seriam preenchidas com plantas aquáticas, garantindo assim o conforto térmico no interior da casa. Aquela casa contava uma história, que era a de cada um de nós que pisamos o barro que compunha suas paredes, deixando ali nossa energia. Era também a história daquela floresta que cedeu os recursos para a construção. Mas, sobretudo, era a história de Piracanga, de pessoas que vivem ao avesso da normalidade cosmopolita ao decidirem estar em harmonia com a natureza. Porém o que mais marcou minha viagem não foi o curso em si, mas as vivências que tive e as pessoas que conheci naquele local.


Foto: O esqueleto da obra que estávamos construindo

Foto: todo mundo colocando a mão (e os pés) na massa

Foto: Willian: o arquiteto descalso. Uma pessoa fantastica de se conhecer!


Enquanto eu estava na comunidade, acontecia o curso de nível 3 da leitura de aura, que trata da leitura de relacionamentos. Como havia uma parte prática para os alunos treinarem as leituras, eles precisavam de voluntários e eu logo me candidatei, sem ter nenhuma ideia do que de fato era aquilo. Sentei frente a frente o com terapeuta e escolhi fazer uma leitura do meu relacionamento com minha namorada. Basicamente ele fecha os olhos, acessa seu campo energético e dele retira informações que descrevem sua vida no momento presente. Uma pessoa que nunca havia me visto antes, muito menos minha namorada que não estava no local comigo, descrevia através de analogias e interpretações exatamente aquilo que estava acontecendo em minha vida. A cada novo fato que ele narrava eu ficava mais impressionado, tudo aquilo trazia muita clareza para coisas que eu vinha evitando olhar. Esse processo foi tão transformador que depois fiz mais três leituras: de meu relacionamento com meu pai, com minha mãe e uma leitura geral só de mim.

Foto: A praia de Piracanga. Um pedaço de paraíso na Bahia.


Outra experiência incrível foi a Libertança, que tem a proposta de te conduzir a um mergulho interior através do corpo, do movimento e da expressão corporal. Diferentes músicas tocam e você se movimenta da forma que quiser, simples assim. O evento estava prestes a começar e, apesar da curiosidade, um bloqueio mental me impedia. Eu nunca havia dançado livremente, muito menos na frente de outras pessoas. O que elas pensariam? Fiquei sentado em frente a oca, ponderando se iria ou não participar. As pessoas chegavam, e eu ficava cada vez mais decidido a não entrar pra não passar vergonha. Com todos lá dentro, o condutor deu o play e a primeira música começou. Foi então que num impulso eu simplesmente me levantei e pensei: “talvez nunca mais na minha vida eu tenha essa oportunidade e vou lamentar por ter me privado dessa experiência”. Entrei na oca, todos estavam deitados no chão por que a primeira música era muito calma e lenta. Deitei e decidi me entregar de corpo e alma. As músicas iam ganhando ritmo mais acelerado e vibrante e meu corpo apenas seguia o fluxo. Eu dançava sem pensar em nada, movimentando todas as partes do corpo, explorando os espaços, fluindo com outros corpos, numa leveza e felicidade que nunca tinha experimentado, pelo menos não daquela forma. Ao final, minha alegria era tanta que não cabia em mim. Fui pra beira da praia e fiquei ali sentado, processando tudo aquilo.


Em Piracanga eu fiz minha iniciação em Reiki I, participei de festas com a comunidade, aprendi sobre permacultura para vier em sintonia com a natureza, dividi minhas experiências em rodas de partilha, lavei minha alma naquele mar e conheci pessoas incríveis que levo no meu coração para sempre. Como pode um mês ser tão transformador assim? Acho que a resposta está na simplicidade de viver intensamente cada momento.


Foto: A familia (parte dela) que formei em Piraganga!


Harih Om

119 visualizações3 comentários

3 Comments


Marta
Marta
Jan 21

Que bom partilhar isto com o grupo e dar mais de si a conhecer. Deve ter sido umá experiência incrível.

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Lígia Germano
Apr 06, 2023

Puxa que lindo...viajei com vc neste relato.😍

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Camilla
Camilla
Jul 26, 2020

Caramba, que experiência incrível! Deve ser transformador mesmo poder conviver um pouquinho com essas pessoas que tem tanta consciência, tanta coisa para nos ensinar e ainda nessa natureza maravilhosa. Que demais, amei o texto, parabéns!

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