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Blog - Ale Toledo

Foto do escritorAle Toledo

Sentar-se com o silêncio


Em frente ao computador. Meio da tarde. Sozinho no quarto em silêncio. Os dedos passeiam no teclado para escrever sobre o próprio silêncio.


A vida tem sido muito barulhenta desde cedo. É tanta coisa pra ver, saber, sentir, explorar, viver. Não que isso seja ruim, nem bom talvez, apenas é como é, a vida sendo esse desenrolar de coisas que simplesmente acontecem de forma incessante e frenética. Não quero parar isso, até porque reconheço a prepotência que seria achar que tenho algum poder de parar o ritmo da vida. Não posso. Ninguém pode.

o silêncio é um espaço que pode ser habitado

Mas o silêncio também existe, é fato. No yoga aprendi mais sobre ele. Achava que silêncio era ausência de barulho, que tudo tinha que estar quieto, que eu deveria estar em um ambiente livre de sons externos, com o mínimo de estímulos e então eu estaria em silêncio. Mas aos poucos, notei que não era bem isso. Notei que silêncio é uma atitude que vai muito além da simples ausência de estímulos externos. Aprendi então que o silêncio é um espaço que pode ser habitado independentemente de onde se está.


Ouvindo um podcast (Invisibilia - Therapy, with Friends), me interessei particularmente pelo que uma terapeuta disse: as vezes a gente precisa ficar em silêncio apenas com a sensação daquilo que foi dito. Ela se referia a uma sessão de terapia entre amigos, na qual discutiam seu conflitos de relacionamento. Mas isso despertou algo em mim. Ficar em silêncio com as sensações! Experimentar o espaço do silêncio.


Passei então a pensar o silêncio como um espaço, algo que se alarga no tempo, e que por isso permite que as coisas se acomodem dentro de mim. E isso é transformador. Porque desde muito cedo, na nossa vida barulhenta, a gente aprende que os giros tem que ser rápidos: “esquece isso”, “pense positivo”, “veja por esse outro ângulo”, “sai dessa”. Ninguém ensina a gente a alargar o tempo das sensações, a sentar em silêncio com nossos sentimentos.

Sei que sou uma pessoa silenciosa quando sentimentos mais profundos me afetam. Mas sei também que meus silêncios muitas vezes são apenas fuga ou uma punição ao outro. Fuga porque minha mente fica desviando do foco, pensando em coisas aleatórias, numa tentativa de não querer lidar com o incômodo presente. Punição porque muitas vezes experimentei ficar em silêncio para deixar a outra pessoa incomodada, criar uma distância e estabelecer uma textura tensionada na relação. Reconheço então que esses não são silêncios reais, mas mecanismos do meu ego.

Reconhecer os mecanismos do próprio ego é um caminho para mudança

É importante reconhecer esses fatos, porque foi reconhecendo eles que pude de fato me permitir experimentar o “silêncio real”. Tenho experimentado esse alargamento das sensações que me atravessam. Tenho deixado elas tocarem meu corpo e percebo como se manifestam em mim. As vezes no estômago, as vezes no peito, na garganta, nas costas. Estar em silêncio com minhas sensações e aprender com elas.


No começo pode ser desesperador, dar espaço para aquilo que nem sempre é agradável, que é incômodo e dolorido, mas é também libertador, de um aprendizado tão profundo que nem dá pra descrever.


Em um dos cursos de formação que participei, aprendi com o professor Osnir que cada asana (postura) no yoga nos convida ao silêncio, e que cada silêncio é diferente do outro. O exemplo que ele deu foi: o silêncio percebido em um templo é diferente do silêncio percebido em um velório, ambos são silêncios, mas comunicam sensações diferentes. Isso também ressignificou minha prática pessoal.


Então, talvez, o lance não seja sentar-se em silêncio, mas se sentar com o silêncio. Habitar esse espaço precioso de percepção e aprendizado.

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1 Comment


Marta
Marta
Jan 26, 2023

Gostei bastante do tema do silencio. fez todo o sentido para mim que o importante é ; não só estar em silêncio mas mais importante ainda , é estar com o silêncio, permitindo ter e sentir as sensações do corpo, dos pensamentos . Isto é uma viagem no autoconhecimento.

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