top of page

Blog - Ale Toledo

Foto do escritorAle Toledo

Saboreando o Néctar Divino

Existe uma passagem na mitologia hindu que conta a história da busca pelo néctar na imortalidade, Amṛta. Tal néctar está escondido nas profundezas do oceano das águas causais (Samudrā) e é inacessível tanto para dos deuses, quanto para os demônios que disputam sua posse. A única forma de consegue que Amṛta venha à superfície é através da união das forças entre deuses e demônios, em um processo de batedura do oceano, usando uma cobra enrolada no monte Maṇḍāra, apoiada sobre Kurma ( uma tartaruga que era a segunda encarnação de Vishnu). No entanto, nesse processo de batedura, a primeira coisa que vem à superfície é Halahala, um veneno mortal.


Aflitos com essa situação, deuses e demônios pedem ajuda à Shiva, que estava meditando nas montanhas do Himalaia. Shiva então, que transcende a dualidade, e por consequência a morte e imortalidade, bebe o veneno para salvar a humanidade. Dessa forma, Shiva Nīlakaṇṭha (O que possui a garganta azul), é a representação daquele que absorve em seu próprio organismo o mau do mundo, redimindo a humanidade.



Bom, mas porque dessa história? Nesse período em que estamos passando (época de coronavirus), nossa vida está sendo sacudida de forma intensa, assim como Samudrā, o oceano das águas causais. Nossa rotina mudou, nós estamos afastados das pessoas que gostamos, estamos tenho pouco ou nenhum contato social, muitos estão se sentindo inseguros, ansiosos, perdidos em meio a tantas incertezas. Muitos de nós estamos tendo que se confrontar com conteúdos internos que, devido à rotina atarefada e as várias distrações, ficavam bem guardados, mas agora estão vindo à tona. Como se todo o nosso veneno viesse à superfície e a gente tivesse que lidar com ele.


Apesar das dificuldades, esse é o momento de nos conectarmos com nossa essência, com nosso Ser. Se você compreender o conceito mais básico dentro do yoga, que é a visão da unidade, vai entender que Shiva não é diferente de você, mas é, na verdade, a sua própria essência. Dessa forma você encarna esse aspecto de Shiva e, olhando para todos esses conteúdos indesejáveis, assimila e aceita todos eles com compreensão e clareza, pois são parte de você, e a gente não nega nenhum conteúdo, mas ao mesmo tempo cria espaço e permite que o néctar divino brote. Ou seja, esse é um momento de mudança, de revisão interna e isso requer coragem. Coragem para lidar com o incerto, para olhar para tudo aquilo que há tempos estamos guardando.


Precisamos compreendermos que tudo o que acontece na vida é um presente, uma bênção (até mesmo aquilo que não conseguimos compreender, ou aquilo que nos desagrada). Muitas coisas que acontecem na nossa vida fogem a nossa compreensão, por isso esse momento também requer entrega, confiança na ordem das coisas, confiança no Dharma, na lei cósmica que rege o universo, confiança no Amor Divino.


E para exemplificar, termino esse texto com um trecho do sábio poeta, Rumi:


Quando o amor vos chamar, segui-o, Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados; E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe, Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos; E quando ele vos falar, acreditai nele, Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos Como o vento devasta o jardim.

Harih Om

174 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page