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Blog - Ale Toledo

Foto do escritorAle Toledo

Quão fundo é necessário penetrar para perceber aquilo que já se manifesta na superfície?

Esse é um paradoxo muito interessante na prática de yoga. Alguns textos, como a Kathopanishad, revelam que “o que está aqui está em todo lugar, se não está aqui, não está em lugar algum”. Se fizermos uma analogia com o mar, podemos dizer que todo o oceano, em sua essência, está contido em uma gota, visto que ambos são compostos de água salgada, e, portanto, também está contido na superfície das ondas. Assim, a onda não é diferente do oceano, é apenas uma manifestação dele, feita da mesma substância que se encontra no fundo.

Porém, a superfície é agitada, as vezes descontrolada, hora pode estar calma com algumas marolas, outras vezes muito intensa com fortes ondas, mas o fato é que na superfície sempre haverá flutuações. O fundo, por sua vez, é calmo, sem agitação, estável e é por isso que um banhista mergulha ao ver uma grande onda vindo em sua direção.


Meditar é fazer esse mergulho, buscar esse refúgio de tranquilidade em si mesmo. Isso não significa negar o que está na superfície, muito menos achar que o nela se apresenta é separado ou é “pior” do que aquilo que está na profundidade, é apenas reconhecer que no silêncio, a percepção de nossa real natureza se faz mais clara.

No Yoga Sutra, o sábio Patanjali defini yoga como:

योगश्चित्तवृत्तिनिरोध:

I:2 yogaścittavṛttinirodhaḥ

Yoga é a cessação [da identificação com] os conteúdos de citta (psiquê)

Os pensamentos, memórias, sentimentos e emoções são conteúdos que surgem em nossa tela mental, são percebidos por nós durante um intervalo de tempo e depois se vão dando lugar a novas sensações. Aquilo que “vem e vai” não pode ser não pode ser essencialmente real, assim como a onda que se manifesta e se desfaz na praia. Por isso Patanjali nos aconselha a não nos identificarmos com os conteúdos da psiquê, pois esses são apenas manifestações, não é a nossa natureza real, eterna e imutável. Por exemplo, se você estiver andando anoite em uma rua escura e percebe que alguém desconhecido vem em sua direção, o medo vai surgir em você. Se você estiver em uma praia tomando água de coco, a alegria vai se manifestar em você. Se você tem muitas dívidas, mas pouco dinheiro, a preocupação irá se fazer presente. Ou seja, tais sentimentos são relativos às circunstâncias na qual você se encontra, manifestações momentâneas de cada experiência, mas o Eu Verdadeiro, o estado de presença fundamental é o mesmo em qualquer uma dessas situações. Portanto não se identificar com essas flutuações é apenas reconhecer que elas são passageiras e não aquilo que somos verdadeiramente.

Você pode dar esse mergulho sempre que quiser: lavando roupa, cortando um legume, conversando com alguém, sentado em uma praça, de pernas cruzadas no chão ou ainda fazendo uma prática de asanas, pois só o que é necessário é estar consciente da própria consciência e compreender que os pensamentos, emoções e memórias são apenas a superfície, manifestações dessa consciência.

Dessa maneira, cada respiração é um convite a essa percepção. Então pense melhor a próxima vez que disser “eu não tenho tempo para meditar”.

Harih Om

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