Você já se perguntou por que é tão difícil estabelecer hábitos que sejam saudáveis e que nos conduzam a uma vida mais equilibrada e consciente?
A resposta para essa pergunta pode estar escondida atrás de algo que poucas pessoas notam.
Todos temos sonhos e metas de vida que queremos alcançar, mas sabemos o quão difícil é deixar de lado os velhos hábitos e adquirir novos para começar a atingir os objetivos.
O problema é que caímos facilmente nos velhos costumes de autosabotagem e procrastinação.
Por exemplo, você pode querer criar o hábito de acordar cedo e define que irá se levantar às 6h00 todos os dias.
O primeiro dia é fantástico, você acorda disposto, faz exercícios físicos, toma seu café e começa o dia. O segundo e terceiro dia também fluem bem.
Mas a partir do terceiro, você já ativa o soneca e fica mais 15 minutos na cama. E isso se repete por mais uns dias. A motivação vai se perdendo e você acaba vencido pela vontade de ficar na cama.
Daí surge a frustração: eu não consigo vencer a preguiça, tenho dificuldade de acordar cedo, eu deveria ser mais comprometido, por que eu não consigo fazer algo que deveria ser simples?
E o ponto chave aqui é: você está olhando apenas para o hábito (para o mau hábito no caso), a ponta do iceberg, e não para aquilo que gera esse hábito.
A construção da identidade
A forma como a gente age é predominantemente relacionada com a identidade que criamos de nós mesmos.
Se eu acredito ser uma pessoa saldável, se essa é minha identidade, minhas ações irão facilmente refletir essa crença, então eu irei me alimentar melhor, fazer exercícios, porque essa é a visão que eu construí de mim mesmo e também é a visão que as pessoas têm de mim.
Da mesma forma, se eu acredito que sou uma pessoa distraída, eu vou esquecer mais facilmente das coisas, vou ter dificuldade de concentração e assim por diante.
Existe um sistema de looping. Você nasce como um papel em branco e com o passar do tempo vai aprendendo coisas, repetindo padrões (hábitos) que você aprendeu com seus pais, familiares e professores.
A repetição desses padrões vai criando a sua identidade. E a sua identidade vai fazendo com que você repita esses padrões, num ciclo de feedback contínuo. Ou seja, suas ações definem a sua identidade e a sua identidade influência nas suas ações.
Mudança de padrões
É por esse motivo que quando queremos mudar um hábito, não devemos olhar apenas para a ação que está sendo gerada, mas quais são as crenças que estão por trás desse hábito, permitindo que ele se repita.
Para ilustrar melhor, vou usar um exemplo do livro Hábitos Atômicos de James Clear.
Imagine que alguém oferece um cigarro para uma pessoa e ela não aceita dizendo “Não, obrigado. Eu estou tentando parar de fumar”.
Essa frase carrega consigo a crença de que a pessoa é fumante, essa é a identidade dela, mas ela quer se livrar do hábito.
Quando há um conflito entre a identidade e as ações, isso gera uma dissonância cognitiva, ou seja, um desequilíbrio interno que demanda muito esforço e energia do cérebro para se manter.
Com o passar do tempo, manter essa dissonância será praticamente impossível, e a pessoa voltará a expressar os hábitos que condizem com sua identidade (ainda que essa esteja em um nível subconsciente).
Ao passo que se a pessoa, ainda que tenha passado muitos anos sendo fumante, negasse o cigarro dizendo “Não, obrigado. Eu não fumo”, ela está construindo uma nova identidade e de fato a ação coerente para um não-fumante é não fumar!
Construindo novos hábitos
Voltando ao exemplo de acordar cedo, se minha crença é que “eu não sou uma pessoa matinal”, ou que “é difícil acordar cedo”, provavelmente eu terei dificuldade de manter esse novo hábito.
É necessário entender que a sua identidade será o fio condutor das suas ações e as suas ações irão reafirmar a sua identidade.
O mais interessante é que sua identidade não é fixa e imutável. A todo o momento você pode escolher quem você quer ser e, a partir daí, direcionar suas ações para justificar essa identidade.
Por isso, se você quer construir novos hábitos, comece revendo a suas crenças que geram seus hábitos atuais.
Em seguida determine: que tipo de pessoa eu quero ser? Como essa pessoa age? O que ela come? Que horas acorda? Como ela se relaciona com as pessoas? Que tipo de emprego ela tem?
A partir da construção de uma nova identidade, novos hábitos serão construídos com mais naturalidade.
A visão do yoga na coerência pessoal
Na Bhagavad-Gita, um dos textos mais importantes na tradição do yoga, Krishna (a personificação da consciência suprema) ensina a seu discípulo Arjuna vinte valores.
Dentre eles está o valor da retidão, Arjavam.
Arjavam é o valor que, metaforicamente, é comparado á uma flecha, pois quando esta é lançada, sua ponta, seu corpo e sua calda seguem sempre a mesma direção.
Por isso Arjavam é trazer alinhamento entre o que você pensa, o que você fala e suas ações. Isso é consonância cognitiva, alinhar a sua identidade às suas ações.
E no âmbito do yoga, sua identidade deve estar alinhada com o seu Dharma, o seu propósito e este por sua vez deve ser um propósito em benefício de todos e não centrado em si mesmo, egoísta.
Uma vida com propósito
Uma vida equilibrada e com propósito começa a se fundamentar na construção de uma identidade que condiz com os seus anseios verdadeiros, aquilo que faz seu coração vibrar.
Isso vai se refletindo nas suas ações, que com o passar do tempo e repetição vão se tornando hábitos empoderadores.
Pouco a pouco, com constância e sem pressa, o acumulo das ações repetidas irão resultar em uma transformação radical em sua vida.
Tudo começa com o primeiro passo!
Namastê