Não é tão evidente para muita gente perceber que a forma como utilizamos nossos corpos está diretamente relacionada com nossa vida emocional. O corpo guarda em si as marcas/memórias de toda nossa história. Infelizmente, pressões surgem de todos os lados na tentativa de controlar corpos que em si já nascem livres, mas que, dependendo de seu gênero e sua cor, sofrerão ainda mais imposições ou restrições. Controlar nossos corpos é controlar a dinâmica social.
O psiquiatra brasileiro José Ângelo Gaiarsa e o pesquisador do campo somático Stanley Keleman tinham a convicção de que as pessoas não mudariam seus modos de vida e relações com o poder se não mudassem o uso de seus corpos.
Vejo com perplexidade quando é imposta à alguma criança que seu corpo performe apenas o que é socialmente aceito para sua condição de menino ou menina. Por exemplo, não é raro vermos pais nervosos e esbravejantes ao verem seu filho pequeno dançar rebolando. A sequência se dá com a frase: parar de rebolar assim isso é coisa de menina. No entanto, nem as meninas escapam a esse controle de seus corpos e, se rebolam, frases como “isso não é coisa de menina de família” costumam saltar aos ouvidos.
Fluir o corpo é fluir as emoções
O quadril é uma articulação que permite muitos movimentos tanto das pernas quanto do tronco. Porém movimentá-lo de uma forma específica pode ser considerado moralmente inapropriado. Essa é minha perplexidade: notar que a gente deixa de mover o corpo de determinadas maneiras porque isso pode ser considerado feio, ridículo, embaraçoso, reprovável, diabólico.
Mas a gente não deixa de se mover apenas fisicamente, deixamos de movimentar nossas emoções também. Um quadril rígido revela uma rigidez que está ancorada mais profundamente na pessoa. A falta de mobilidade do quadril é apenas um sintoma.
Praticamente todas as pessoas que me veem ficar de cócoras ou fazer posturas com grande amplitude de movimento do quadril me dizem que quando eram crianças faziam isso com facilidade. Mas elas não se perguntam o porquê perderam essa habilidade, pois isso fica óbvio ao observar a trajetória de desenvolvimento escolar, acadêmica e profissional. Na escola passamos grande parte do tempo sentados em nossas carteiras, o mesmo acontece na faculdade e muitas vezes na vida profissional na qual o corpo assume a mesma postura por dias consecutivos. Obviamente não quero generalizar, mas se olhamos para um panorama geral, não há muitos estímulos para que a gente movimente nossos corpos de maneiras diversas e amplas.
Sentir com o corpo todo e mover-se com a alma
É nesse ponto que o yoga assume um papel interessante de propor caminhos de exploração do corpo em posições que não são as usuais de nosso dia a dia. Ficamos de cabeça para baixo, levamos o tronco para trás, experimentamos posturas com o quadril mais aberto, ficamos no chão, em pé, sentados. E se você se implica na prática percebe que dela surgem sensações e emoções que transbordam.
No final, o que realmente buscamos é liberar essas travas. Reaprender a usar nossos corpos de maneira mais espontânea e fluida.
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