Não são poucas as evidências que nos mostram que a prática de meditação nos conduz a uma mudança significativa de estilo de vida provocando mudanças visíveis no cérebro e promovendo uma maior capacidade de gerenciarmos nossas próprias emoções. Pesquisas mostram que mesmo poucos minutos de meditação já são o suficiente para produzir essas transformações. Dessa forma, muitas pessoas começam a meditar com o intuito de sanarem seus problemas como insônia, ansiedade, falta de foco, estresse, irritabilidade, mau-humor, e todas as outras coisas que podem entrar pra essa lista.
Acontece que a meditação é uma ferramenta de autoconhecimento e, nesse sentido, ela não tem uma função analgésica para nossas aflições e sofrimento, ao contrário, ela nos convida a ficar frente a frente com todos esses conteúdos, olhar para eles, compreende-los e acolhe-los, compreendendo a natureza do sofrimento e a realidade da insatisfação. É só através desse olhar franco para as nossas emoções que podemos nos conhecer em profundidade.
Quando falamos de meditação podemos pensar em dois aspectos distintos: a meditação como técnica e a atitude meditativa.
Meditação como técnica
A técnica meditativa é aquela que geralmente vem à cabeça das pessoas quando se fala em meditar. Envolve se sentar em uma posição determinada de pernas cruzadas e utilizar uma técnica específica para entrar em estado meditativo, como por exemplo, fazer uma respiração profunda, prestar atenção nas partes do corpo, tomar consciência dos pensamentos, fazer um mantra, visualizar algo específico.
Nesse tipo de meditação você separa um horário do seu dia para fazer essa prática, escolhe um lugar tranquilo e determina qual a técnica vai utilizar. É comum as pessoas iniciarem a meditação já esperando um resultado específico, como reduzir a ansiedade. Contudo, essa expectativa criada logo é substituída por uma frustração quando o praticante não consegue diminuir seus pensamentos e a mente continua bastante agitada.
Por isso, o primeiro ponto ao iniciarmos uma meditação é nos livrarmos das projeções que fazemos dela e deixar que ela seja como é, pois esse é um espaço reservado para nossa auto-observação e não “autonegação”, uma tentativa de controlar a mente de alguma forma e ter apenas pensamentos bons ou calmos. A gente permite que tudo se manifeste da forma como é.
Obviamente esse é o maior obstáculo dos meditadores iniciantes, achar que a meditação não é para eles porque não conseguem “parar de pensar”. A mente é um reflexo daquilo que somos. Se vivemos em uma rotina agitada, com muitas informações, estímulos, notícias e uma carga grande de trabalho, essa será a condição da nossa mente e, inevitavelmente, é isso que iremos experienciar quando sentarmos para meditar. Com a prática as coisas vão se assentando e nossa percepção vai se refinando, tudo vai se tornando mais fácil.
Meditação como atitude
Uma das desculpas mais frequente para não meditar é a falta de tempo em um cronograma extremamente apertado. A meditação enquanto atitude vem para resolver esse problema, pois ela parte do fato de que todas as situações são um convite ao aprendizado e, portanto, devemos estar atentos a cada instante. Ou seja, é trazer a meditação para todas as situações de nossas vidas, seja no trabalho, com a família, cozinhando, varrendo a casa, fazendo exercícios físicos, atenção plena a todo instante, sem necessidade de reservar um horário para isso.
Essa é uma forma poderosa de meditação, pois estamos ao mesmo tempo percebendo nossos conteúdos internos (pensamentos e emoções) e as conduções e circunstâncias nas quais eles surgem. A gente passa a perceber como os diferentes ambientes alteram a forma como nos sentimos e dessa maneira a gente aumenta significativamente a nossa consciência sobre nós mesmo. Compreender com clareza como nossas emoções oscilam nos permite sermos autônomos e não refém das emoções.
Porém a atitude meditativa pode ser mais desafiadora, pois é necessária presença e atenção plena nas atividades que desempenhamos, mas são inúmeras as distrações que competem por nossa atenção.
Atualmente, para tentar aplicar essa técnica eu coloco alarmes para despertar em horários aleatórios ao longo do dia. Toda vez que o relógio toca eu paro por um minuto e olho para o que estou fazendo, o ambiente que estou e o que estou sentindo. Quase sempre percebo que eu estou agindo no automático, sem uma intensão definida e isso é um desperdício de energia. Por isso faço esse esforço de me reeducar a me distrair menos e aumentar minha consciência sobre mim mesmo.
O silêncio reside na simplicidade
Tanto técnica quanto na atitude meditativa, nosso papel é apenas estar atentos para observarmos o momento presente. Às vezes nós achamos que nos falta uma base teórica, queremos conhecer mais sobre meditação, aprender sobre a filosofia, ler mais livros sobre o tema. Tudo isso nos traz um panorama muito interessante sobre a prática, porém, são apenas conteúdos intelectuais que vão sobrecarregando a mente.
A meditação parte no sentido contrário, no esvaziamento de toda racionalização. Não é necessário nenhum conhecimento complexo para reconhecermos nossa própria natureza, a única condição necessária é estar presente na simplicidade de cada instante, como esse enquanto você lê esse texto. O silêncio interno sempre está presente, é só uma questão de aprendermos a nos conectarmos com ele, nos conectando assim com a nossa intuição.
Ao trazer a meditação para nosso cotidiano, a gente aprende a usar a nossa energia com aquilo que realmente importa, pois onde está nossa atenção, ali está a nossa energia.
Harih Om
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